José Roberto Goldim
Em 06 de agosto de 1945 foi lançada a primeira bomba atômica da história da humanidade. A população de Hiroshima teve uma perda imediata de 80 mil pessoas, que com o passar do tempo chegou a pelo menos 140 mil óbitos. A estes mortos se somaram os demais causados pela explosão da segunda bomba atômica em Nagasaki, no dia 09 de agosto de 1945. Nesta segunda explosão morreram mais 40 mil pessoas instantaneamente, com um total de 80 mil mortos ao longo do período seguinte. Passaram-se 75 anos e estes dois episódios permanecem na memória da humanidade como marcas indeléveis.
As mortes da COVID-19 já são quase seis vezes superiores a soma destas duas bombas atômicas. São mais de 700 mil mortes diluídas ao longo de sete meses e que ocorreram em mais de 180 países do mundo.
Dois países ultrapassaram esta mortalidade simbólica. O Brasil, no início de agosto, atingiu a marca dos 100 mil mortos, ou seja, superou o número de pessoas que morreram no dia do ataque a Hiroshima. Nos Estados Unidos, a soma dos mortos pela COVID-19, que totalizam mais de 160 mil, ultrapassou a mortalidade conjunta dos ataques a Hiroshima e Nagasaki.
Muitas vezes as notícias falam de mortes que ficam anônimas, quando transformadas apenas em estatísticas. Na realidade são perdas singulares e irreparáveis para as famílias, amigos e para toda a humanidade. É a indissociabilidade do indivíduo com a comunidade humana. É a manifestação da Alteridade na prática, onde todos contam, onde todos são interdependentes, onde todos são singulares.
A dignidade humana também se preserva pela memória. Parafraseando o Talmud, que afirma que "quem salva uma vida, salva o mundo inteiro", é possível dizer que quem relembra estas vidas perdidas, preserva a nossa identidade como humanidade.
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